A tarde para a pequena Maria Clara, de apenas 9 anos, foi especial. Ela e mais algumas crianças conheceram de perto o ex-nadador e campeão paralímpico Clodoaldo Silva. O encontro aconteceu na quinta-feira, durante uma aula de natação do projeto SuperAção, que atende pessoas com deficiência e com autismo. A menina é portadora da Síndrome de Williams, que acarreta em problemas de coordenação motora e equilíbrio, apresentando um atraso psicomotor. A natação ajuda no tratamento, por meio da interação com outras crianças e nos exercícios físicos. O projeto, que acontece no UNI-RN, atende 100 participantes e, além do esporte, realiza o acompanhamento psicológico dos familiares.
Assim que viu Clodoaldo, a menina não desgrudou do campeão. Abraçada, foi escolhida para segurar a tocha enquanto o ex-nadador conversava com a imprensa. Nascido em Mãe Luiza, na região Leste de Natal, o potiguar teve paralisia infantil e sofreu as dificuldades de um bairro de periferia com a locomoção. Mesmo assim, superou os obstáculos a partir da natação e, na mesma piscina que Maria Clara, deu as primeiras braçadas para a caminhada vitoriosa. O potiguar está com 38 anos e se aposentou das piscinas após a Rio 2016. Com 680 medalhas, sendo 13 em Paralimpíadas, foi o responsável por um dos momentos mágicos nos Jogos do Rio de Janeiro: o acendimento da Pira. Com duas tochas em mãos, uma utilizada durante o revezamento em Natal e a outra usada no Rio de Janeiro, o "Tubarão" atendeu ao fãs, tirou uma enxurrada de selfies e conversou com muita gente, sempre com um sorriso no rosto e uma palavra de incentivo.
- Eu comecei aqui e já nadei muito nessa piscina e assim como a Clarinha, eu tinha sonhos, objetivos, mas nunca tive a oportunidade de participar de projetos como esse. Hoje, muito graças a 2004, quando o Brasil conquistou aquele monte de medalhas em Atenas e eu fui o maior medalhista, tudo isso é possível. Eu fico muito feliz, de 20 anos depois, aposentado das piscinas, poder ser exemplo de inspiração para essa galerinha. Isso me deixa feliz, independente de medalhas, de tudo que eu consegui, essa é a maior recompensa. A nossa missão no esporte paralímpico não é só estar no lugar mais alto do pódio, mas dar esse exemplo para futuras gerações - contou o Tubarão.
Mesmo fora das piscinas, Clodoaldo Silva segue falando sobre a natação. A função agora é de palestrante e os convites para contar um pouco da história no esporte surgem "aos montes", como ele mesmo ressaltou. Entre as histórias, muitas viagens e a troca de experiências com estudantes ou empresários. A motivação para falar é simples: inclusão social. Clodoaldo confessa que não faz distinção quanto aos projetos esportivos e garante o apoio necessário para que uma criança possa ter uma caminhada mais acessível, mesmo que nãio siga no esporte.
- Hoje, eu estou participando de alguns eventos e proferindo palestras. Na verdade, estou trabalhando mais do que no tempo em que treinava e competia. Para isso, qualquer projeto esportivo que incentive a criançada e os jovens terá meu apoio. É um meio de inclusão muito forte e que muda a vida de qualquer um - ressaltou.
Encontro de gerações
Integrante do SuperAção, o jovem Clóvis Matheus, de 19 anos, é um dos frutos do projeto coordenado pela professora Marília Rodrigues, em Natal. No mês de junho, durante o Circuito Brasileiro de Natação, em Recife, o nadador conquistou a medalha de prata nos 200m livres, pela categoria S5, a mesma que Clodoaldo Silva disputava. Foi a primeira recompensa pelo esforço do dia a dia na piscina e que o iniciante nadador carrega com orgulho no peito. Em um bate papo com o ídolo, o fã ouviu muito incentivo para seguir no esporte. O sonho de Clóvis também é disputar uma Paralimpíada pelo Brasil. Na torcida, o jovem ganhou um integrante especial.
- Eu perdi as contas de quantas medalhas ele tem, mas não é à toa que é considerado o 'Tubarão' das piscinas. A conversa com ele foi boa, me incentivou e disse que era preciso manter o foco, a determinação, que eu conseguiria chegar longe. Ele até brincou e disse: 'você vai ser melhor do que eu'. Bora ver, né? Eu pretendo treinar muito para alcançar isso. Quem sabe, eu chego na Paralimpíada - planejou o jovem nadador.
Projeto SuperAção
O projeto SuperAção realiza a prática esportiva da iniciação ao alto rendimento para crianças com algum tipo de deficiência. No projeto, elas participam de aulas de natação, coordenadas pela professora Marília Rodrigues, do curso de Educação Física do UNI-RN. A iniciativa conta com o apoio do Laboratório de Avaliação do Desempenho Humano do curso de Educação Física do UNI-RN, e da UFRN, através da Base de Pesquisa em Atividade Física e Saúde (AFISA). O Núcleo de Inclusão está vinculado à Pró-Reitoria Acadêmica do UNI-RN.
FONTE : GloboEsporte.com/RN
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